Miguel Murteira

Sacos cheios de plásticos e lixo

Plásticos – Um Choque na Praia do Baleal

No dia 23 de Junho de 2019 fiz a minha primeira ação de recolha de plásticos e lixo na praia do Baleal, em Peniche.

Deixa-me contar-te o que aprendi nesse dia, pois acredito que mudará para sempre a tua perspetiva sobre o “estado de saúde atual” do nosso planeta.

E antes disso, porque não sei se já me conheces ou não, deixa-me contextualizar-te bem rápido sobre o que me levou a esta recolha de lixo e de plásticos na praia.

Apesar de ter apenas 25 anos já defendo um estilo de vida ecológico desde adolescente, altura em que ajudei a implementar a reciclagem em casa. O cuidado com o meio ambiente sempre foi importante para mim. Sempre me fez todo o sentido cuidar do nosso planeta, desta nossa Casa que nos dá tudo o que precisamos para viver.

Quando acabei o secundário quis seguir engenharia eletrotécnica por influência do meu padrinho Paulo, que me falou na importância das energias renováveis para o futuro. Comecei o curso determinado a ajudar a humanidade a encontrar uma forma de viver apenas através de fontes de energia renováveis.

No entanto, as circunstâncias e algumas decisões fizeram com que já não continue a viver o meu propósito ecológico através da engenharia, mas sim através de uma mudança de estilo de vida. Algo acessível a todas as pessoas e que ajuda a vivermos de forma sustentável, mais rapidamente.

Uma perda de sensibilidade

Através dos media somos expostos frequentemente a imagens da poluição dos oceanos, a imagens da morte de animais devido aos plásticos e já fomos brevemente elucidados acerca do impacto que os microplásticos têm em toda a cadeia alimentar e, consequentemente, na nossa saúde.

É de louvar o trabalho de todos os jornalistas e profissionais que tornam possível que essa informação chegue até nós!

Mas mesmo nesta Era de abundante informação muitas pessoas ainda sentem que é difícil mudarem os seus hábitos. O que me levou à pergunta…

Porquê?

Porque é que apesar de sermos expostos a tanta informação não mudamos os nossos hábitos?

Será que por sermos expostos constantemente a essas informações, ficamos gradualmente mais insensíveis?

Será que refletimos verdadeiramente sobre a gravidade do que nos é mostrado nessas notícias?

Paramos para pensar no que podemos fazer para alterar o que está mal?

Conseguimos discernir o verdadeiro impacto que todos esses acontecimentos têm nas nossas vidas?

Tanto nos mostram uma notícia de crianças que morrem de fome em países sub-desenvolvidos como, a seguir, numa transição quase fulminante, nos falam do próximo festival de verão e nos mostram a alegria de vários jovens que se divertem com as suas bandas favoritas.

Somos expostos à informação mas não somos levados a refletir e a sentir o que essas informações significam para nós e para o mundo.

Crianças que morrem de fome, políticos corruptos, assassinatos, violações, catástrofes naturais, pedofilia, tudo isso se torna “normal”, gradualmente, aos nossos olhos.

Até a expressão facial dos repórteres é neutra. Percebo que sejam treinados para que transmitam a informação de forma não tendenciosa. Mas o que é facto é que somos expostos a essa informação de forma fria, desprovida de emoções.

Gradualmente deixamos de sentir emoções e de valorizar questões alarmantes na nossa sociedade. Tornamo-nos mais insensíveis como uma forma de proteção, uma forma de mantermos a nossa sanidade mental.

Cheguei à conclusão de que a forma como a informação nos é transmitida nos está a destruir a afetividade e a sensibilidade, pouco a pouco.

As imagens chocam os nossos olhos mas as nossas emoções não reagem. A diferença entre a realidade e a ficção torna-se quase impercetível.

Estamos a ficar sem tempo

Fazendo a ponte para a ecologia e preservação do ambiente, ouvimos os estudos e as previsões dos cientistas, alarmantes, mas mantemos uma atitude passiva, sem tomarmos a iniciativa de alterarmos os nossos hábitos.

Ouvimos os cientistas dizerem que se não mudarmos os nossos hábitos de consumo, em 2050 haverão mais plásticos do que peixes nos oceanos.

A ilha de plástico no Pacífico Norte tem 17 vezes o tamanho de Portugal e cerca de 80 mil toneladas de plástico, segundo um artigo científico publicado na revista Scientific Reports.

Ou então que se não mudarmos radicalmente, as alterações climáticas e subsequente aumento do nível do mar, extinguirão a humanidade também em 2050.

Ouvimos todas essas informações, não gostamos de as ouvir, mas permanecemos indiferentes.

Se o que nos define como seres humanos é a capacidade de sentirmos, o que acontece quando perdemos essa capacidade?

Sem isso nada mais somos do que matéria e um conjunto de reações bioquímicas. Seres que apenas vivem porque respiram, que não se questionam sobre a vida, sobre quem são ou sobre o impacto que estão a ter na sociedade.

Como podemos querer agir de forma diferente se a nossa capacidade para sentir está adormecida?

Aprendi com Harv Ecker, autor do livro Os Segredos Da Mente Milionária, que os sentimentos levam às ações e que as ações levam aos resultados.

Pensamentos -> Sentimentos -> Ações -> Resultados

Por isso, só mudando a nossa forma de pensar, reaprendendo a sentir, recuperando a nossa sensibilidade, é que vamos conseguir mudar as nossas ações e criar novos resultados.

Einstein dizia que a definição de loucura é fazer as mesmas coisas e esperar resultados diferentes. Não é apenas a nossa vida que está em jogo. As nossas ações têm impacto em todo o mundo porque…

Todos nos influenciamos mutuamente

Talvez nos tenhamos esquecido de que todas as nossas ações influenciam a vida de todo o ecossistema. A humanidade é uma família que vive numa teia complexa em que todos se influenciam mutuamente.

Aprendi este conceito no livro do Dr. Augusto Cury, A Saga De Um Pensador. Todos somos responsáveis uns pelos outros, direta ou indiretamente, nesta complexa teia social.

O Dr. Cury chama a este conceito de princípio da co-responsabilidade inevitável.

Deixa-me dar-te dois exemplos práticos deste conceito.

Albert Einstein sempre desafiou o status quo. Era irreverente, ousado e apesar de não ter um intelecto privilegiado, como muitos cientistas acreditavam, tinha uma imaginação privilegiada.

Aprendeu a libertar a sua criatividade.

A imaginação é mais importante que o conhecimento.”

Albert Einstein

Foi galardoado com o Prémio Nobel em 1921 pela descoberta do efeito fotoelétrico e desenvolveu a Teoria da Relatividade Geral, um dos pilares da física moderna.

Einstein amava a filosofia e a ciência. Foi por isso um grande epistemólogo e exemplo de ser humano cujas ações mudaram para sempre a história da humanidade.

Outro exemplo da veracidade do princípio da co-responsabilidade inevitável são as abelhas.

Se as abelhas deixassem de existir, a humanidade acabaria, segundo a Revista Eletrónica De Veterinária da Greenpeace.

Como são responsáveis pela polinização de até 90% das plantas, se elas desaparecessem uma grande parte das plantas também deixaria de existir.

Assim sendo, os animais herbívoros também morreriam em grande parte, afetando toda a cadeia alimentar até chegar a nós.

A escassez de alimentos traria muitas mortes. A crise do setor alimentar afetaria toda a economia, levando ao aumento drástico dos preços dos alimentos.

Possivelmente seriam desencadeados conflitos e guerras e poucos sobreviveriam.

Todas as pequenas partes influenciam o todo e o todo influencia todas as pequenas partes.

Tudo está conectado de uma forma muito complexa e simultaneamente bela, que a nossa mente não consegue compreender completamente.

O que seria de física moderna se Einstein tivesse sido padeiro em vez de físico? Não sabemos. Mas, possivelmente, a física estaria muito mais atrasada.

São demasiadas hipóteses a ter em consideração, é demasiado complexo. A única coisa que sabemos é que tudo está conectado.

Ao continuares a ler mantém presente este conceito de co-responsabilidade inevitável.

A chegada à praia

Quando chegámos à praia o céu estava nublado e chovia levemente. Decidimos ir com os nossos amigos beber um café quentinho à esplanada mais próxima.

Céu nublado e chuva leve
Um café quente para aquecer o espírito!

Depois de um bom momento de convívio fomos até ao carro, preparámos as luvas, os sacos do lixo, as ferramentas e partimos para o areal.

À primeira vista o areal estava limpo e pensámos que não íamos encontrar muito lixo. É uma praia com bandeira azul e aparentemente não iríamos ter muito trabalho pela frente. Aparentemente a contaminação de plásticos ainda não tinha chegado ao Baleal.

Como estávamos enganados!

Os nossos olhos tornaram-se autênticos “scanners de lixo” e começámos por ver e apanhar algumas beatas. Junto das beatas avistámos os primeiros pedaços plásticos. As partes do areal junto à estrada estavam completamente “minadas”…

Seguiram-se as redes, cordas, cotonetes, maços de tabaco, guardanapos, tampas de metal, embalagens de iogurtes e latas de conserva.

Chocados com a quantidade de plásticos…

Ficámos chocados com a quantidade de lixo e de plásticos na areia.

Chocado com a quantidade absurda de beatas no areal (uma beata polui 2 litros de água).

Chocado com a falta de consciência ambiental e de higiene das pessoas que atiraram esse lixo para o chão e o deixaram lá ficar.

Chocado com a ineficiência das escolas e dos pais em transmitirem civismo às crianças e aos adultos de hoje.

Pensei para comigo mesmo: O que andamos a fazer durante os 12 anos de escolaridade obrigatória? Que pessoas “educadas” são estas, que não conseguem respeitar-se a elas próprias nem ao planeta onde vivem?

Tive vontade de me sentar na areia e chorar. Parecia que estava dentro de um filme. Deixei-me vencer pelos dogmas e tive vergonha de o fazer à frente dos meus amigos… Senti um nó na garganta.

Todas aquelas imagens que tinha visto nos documentários, nas notícias, estavam materializadas à minha frente. “Caiu-me a ficha”. O problema é bem real e temos de o resolver o mais rápido possível.

Continuámos a apanhar o lixo que víamos, agora em direção às rochas.

Ao chegarem junto dessas rochas, os meus amigos viram algo estranho na areia. Rapidamente reunimo-nos todos ali. A princípio não sabíamos o que era. Parecia uma espécie de rede.

À medida que mexemos e fomos escavando percebemos que era uma saca de plástico enorme enterrada na areia, à volta dessas mesmas rochas…

Decidimos colocar em espera a recolha dos lixos mais pequenos e empreender a remoção da saca. Equipados apenas com uma enorme força de vontade e com uma pá de plástico pequena, daquelas para apanhar o lixo em casa, iniciámos as escavações!

Pouco tempo depois percebemos que sem mais algumas ferramentas iríamos passar o dia todo a escavar com as mãos e não iríamos conseguir remover de lá a saca.

Reconhecimento e solidariedade

Um senhor que estava a passear com a filha na praia veio junto de nós investigar o que fazíamos. Fiquei surpreendido quando elogiou a nossa iniciativa.

Disse-nos que pouco tempo antes também tinha estado ali com um grupo de pessoas a remover parte de uma corda enorme que estava presa nas rochas adjacentes, cuja extremidade ainda era visível.

Feliz pelo elogio e focado em encontrar soluções perguntei se não teria uma pá que nos pudesse emprestar. Muito amavelmente esse senhor, que se chama Pedro, levou-nos até à sua casa.

Conhecemos a sua esposa, Sofia, igualmente muito atenciosa. Eu e o meu amigo José, que me acompanhou, falámos um pouco com o casal e levámos emprestado tudo o que eles nos podiam dispensar. Saímos de lá entusiasmados e mais motivados para continuarmos a nossa missão de extrair a saca.

As luvas e a pá do lixo cor de laranja, com que começámos, em cima. A raquete e a pá de jardinagem emprestadas, mais abaixo.

Durante as escavações várias pessoas aproximaram-se de nós, observando o que fazíamos. Foi interessante ler nas suas expressões um misto de surpresa e de admiração. Sentia-se que estavam sensibilizadas com a nossa iniciativa.

Quase lá!

Após cerca de 2 horas, entre escavar areia e canais para escoar a água, conseguimos retirar uma grande parte da saca!

A parte da saca que conseguimos retirar!

Depois de removermos aquela parte da saca, emudeci ao observar os filamentos plásticos que ficaram espalhados na água.

Imaginei como se degradariam, a quantidade de químicos que iriam libertar e como se transformariam em microplásticos, acabando por ser comidos pelos animais marinhos.

Senti desespero ao saber que aqueles inúmeros filamentos soltos iam contaminar todo o ecossistema e que era humanamente impossível apanhá-los a todos…

Nesta altura estávamos com fome e desgastados pelo esforço físico. As nossas barrigas já estavam a dar horas!

Fomos buscar as geleiras, almoçámos, demos uns mergulhos, brincámos e desfrutámos da praia e da companhia uns dos outros. O merecido “descanso dos guerreiros”!

Obrigado Rui por nos tirares a fotografia!

E depois do descanso, voltámos à carga.

Já recuperados e ainda mais sensibilizados do que antes, queríamos apanhar mais alguns plásticos. Fomos percorrendo o areal e apanhando o que víamos, até encontrarmos uma zona onde a água chega quando fica maré cheia.

E fomos novamente surpreendidos.

Era pior do que pensávamos

O areal estava cheio de algas secas que tinham pedaços de corda, redes ou papel à sua volta.

Recolhemos o que pareciam ser pedaços de material médico. Partes de brinquedos, tampas de garrafas erodidas pelos elementos. Pedaços de cartão desgastado com frases escritas noutras línguas que não conseguimos identificar. Aquele era lixo antigo.

Foi também a primeira vez que vimos microplásticos, alguns do tamanho dos grãos de areia. Eram tantos pedaços que era impossível contá-los.

Novamente, senti um enorme nó na garganta. Fiquei perplexo.

Até comentei na brincadeira – isto devem ser pedaços de conchas…

Mas, após uma inspeção mais cuidadosa, concluímos que eram mesmo pedaços plásticos. O ambiente ficou mais sério e sentia-se a preocupação em todos nós.

A nossa consciência sobre o que estava a acontecer ao planeta tinha aumentado significativamente naquele preciso instante. Apesar de precisarmos de ir embora, devido às horas, continuávamos a apanhar lixo e a adiar a nossa partida.

Somos todos responsáveis

Como te falei no início desta história, o princípio da co-responsabilidade inevitável mostra-nos que todas as nossas ações, quer sejam construtivas ou destrutivas, alteram os acontecimentos e, por sua vez, o curso da própria humanidade.

Por isso, e fazendo a ponte para a ecologia e sustentabilidade, é importante refletirmos sobre as nossas ações diárias e percebermos se estamos a contribuir para a proteção ou para a destruição do nosso planeta.

A reflexão é a chave para acordarmos a nossa sensibilidade. Melhores ações seguir-se-ão naturalmente.

Cada vez que aceitamos levar para casa as compras em sacos de plástico que iremos mandar fora rapidamente, cada vez que não reciclamos o nosso lixo e o metemos todo junto no contentor, cada vez que deitamos um lixo ou uma beata para o chão, cada ação dessas tem repercussões destrutivas tão amplas, no presente e no futuro, que a nossa mente não tem capacidade de as discernir.

E por usa vez, cada pequena ou grande ação que seja ambientalmente correta terá um impacto inimaginável para que consigamos curar-nos a nós próprios e ao nosso planeta de toda esta poluição.

O que aprendi neste dia foi que todas as ações verdadeiramente contam.

É importante saberes isto para que valorizes cada gesto teu que te aproxima de viveres um estilo de vida mais sustentável. É importante saberes que tu podes fazer a diferença todos os dias. É importante saberes que ÉS RESPONSÁVEL. É importante saberes que podes ser tanto o problema como a solução.

Só tu podes decidir se vais fazer parte do problema ou parte da solução. Ninguém te pode obrigar. Dentro de ti está a resposta de que precisas.

E acredito também que se chegaste até aqui é porque queres fazer parte do grupo de pessoas que fazem a diferença pela positiva.

E, por esse motivo, quero fazer-te dois convites.

  • Primeiro convido-te a que também participes nas nossas próximas recolhas de lixo. Vai mudar para sempre a tua perspetiva. Mantém-te atento aos eventos da minha página de Facebook para saberes quando serão as próximas recolhas de lixo.
Uma parte do lixo que apanhámos
  • E em segundo lugar, convido-te a que comeces já hoje a fazer mudanças ecológicas no teu estilo de vida. As nossas vidas, as vidas de todos, estão em jogo 👇

Mas Miguel eu não sei por onde começar…

Eu compreendo que te possas sentir assim porque eu também já senti o mesmo! No início não fazia ideia de por onde podia começar. Senti vontade de mudar mas estava completamente perdido acerca do que fazer.

A informação está dispersa e nem sempre é fácil encontrarmos formas de mudar que se incluam bem no nosso dia-a-dia. Ou às vezes faltam-nos simplesmente as ideias.

Foi por isso que gravei um vídeo grátis para quem quer começar a ser mais sustentável. Nesse vídeo vais aprender qual é a Fórmula Para Uma Vida Ecológica!

👉 Clica aqui e serás encaminhado para esse vídeo!

Desejo mesmo que estes conteúdos possam ser o gatilho para que consigas tornar o teu estilo de vida mais amigo da natureza.

Queimado pelo sol mas feliz pela missão cumprida!

Conto contigo!

Um abraço,

Miguel

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