Já pensaste que o lixo que fazemos atualmente, tanto em quantidade como em toxicidade, supera largamente o que o nosso planeta consegue aguentar?
E que essa contaminação tem um impacto direto na saúde de todos nós?
Já te tinhas questionado porque motivo hoje em dia existem tantos cancros e doenças auto-imunes?
A toxicidade a que estamos expostos diariamente é cada vez maior e a grande maioria das pessoas não tem a verdadeira consciência do impacto negativo que essa toxicidade tem na sua saúde.
Vou ser muito sincero contigo. Eu não sabia…
Até pesquisar mais sobre ecologia e sobre como ter um estilo de vida mais amigo da natureza, não tinha noção do impacto que os resíduos que produzimos, e respetiva contaminação, têm na nossa saúde.
Escrevi este artigo, e esta série de artigos sobre resíduos, para que possas ficar mais bem informado acerca deste assunto, de forma a fazeres escolhas mais saudáveis para ti e para o planeta.
Nesta série de artigos vou partilhar contigo:
- Quais são as causas da toxicidade dos nossos resíduos
- Como funciona a gestão de resíduos em Portugal
- Para onde vai o nosso lixo
- O que podemos fazer para combater este problema.
Depois de leres esta série de artigos, terás mais claro na tua mente como deverás agir daqui para a frente, de forma a eliminares estas fontes de toxicidade.
Bem-vindo ao primeiro artigo desta série e parabéns por tomares a decisão leres esta informação.
Vamos começar.
Índice
A contaminação está (quase) em todo o lado
Hoje todos somos alvo de contaminantes prejudiciais através da água que bebemos, do ar que respiramos e dos alimentos que comemos.
E tu, tal como eu, precisas de beber água, precisas de respirar e também precisas de comer.
Ou seja a conclusão rápida é: não podes fugir a esta contaminação porque ela está por toda a parte.
E podes estar a perguntar-te neste momento…
Se não posso evitar essa contaminação, o que posso fazer para eliminar as suas causas e, até lá, minimizar os seus efeitos na minha saúde?
Dentro da complexidade que este assunto tem, a resposta é simples.
Nós podemos combater esta toxicidade a que estamos expostos, fazendo mudanças graduais no nosso estilo de vida que nos vão permitir viver em harmonia com a natureza. E, por conseguinte, vamos conseguir eliminar gradualmente a fonte da contaminação, minimizando os seus efeitos nos ecossistemas e na nossa saúde.
Ainda produzimos lixo a mais
É impressionante a quantidade de lixo que o ser humano faz, independentemente de serem resíduos orgânicos como os restos de comida ou resíduos inorgânicos como os plásticos, tintas e materiais tóxicos.
Nos últimos 150 anos a produção de resíduos aumentou drasticamente em todo o mundo.
Há 150 anos atrás, a maioria dos produtos de maior uso e rotatividade eram feitos com materiais naturais de origem vegetal e/ou animal tais como a madeira, o papel, lã, linho, algodão e as plantas propriamente ditas.
O problema é que nestes últimos 150 anos, para além do aumento da quantidade total de lixo, o lixo também se tem tornado cada vez mais tóxico devido à presença de metais pesados, plásticos, produtos químicos, materiais sintéticos e até mesmo de substâncias radioativas.
Hoje as lixeiras/aterros são completamente diferentes das lixeiras de antigamente. Os aterros atuais representam um verdadeiro problema para a saúde pública, e já vais perceber porquê.
Antes o nosso lixo podia ser enterrado e, como era composto de materiais maioritariamente naturais, iria degradar-se, não havendo consequências a longo-prazo nem para o meio ambiente nem para a nossa saúde. Era lixo orgânico e biodegradável.
Hoje o desafio não é apenas minimizar a toxicidade do lixo nem a sua quantidade de forma isolada. O desafio é conseguir diminuir ambos, em simultâneo.
Com a presença de tantos produtos químicos nos aterros, mais cedo ou mais tarde, esse chorume “rico” em substâncias tóxicas vai passar para a terra e para os lençóis freáticos, contaminando todo o ecossistema.
Nota: O chorume é o líquido resultante da decomposição do lixo.
Precisamos de abolir o “mindset descartável”
A nossa sociedade tomou um caminho demasiado consumista em que muitos dos produtos são projetados para serem descartáveis, mesmo não parecendo à primeira vista…
Passo a explicar.
Hoje temos garrafas de plástico descartáveis, copos descartáveis, roupas de fraca qualidade, calçado de fraca qualidade, equipamentos eletrónicos desenhados para durar pouco mais que o tempo da garantia, entre muitos outros exemplos que poderiam ser dados…
Há uns 50 anos atrás quase tudo era reparável. Hoje a palavra reparável parece estar em vias de extinção…
Até os equipamentos eletrónicos se podem considerar descartáveis, hoje em dia.
Já tive eletrodomésticos que duraram mais de 20 anos. Claro que custaram mais dinheiro, na proporção. Mas não será melhor pagar mais por um produto melhor, que dura mais anos e que é concebido de forma a ser durável e reparável?
Não será um uso muito mais eficiente dos recursos do planeta? E fazendo as contas, será que não nos ficaria mais económico a longo-prazo?
É super importante que as empresas comecem a conceber e a fabricar produtos que permitam a troca das diversas peças que os compõem.
Refiro-me a produtos concebidos de forma a que as suas peças possam ser individualmente reparadas, substituídas e tendo em conta todo o ciclo de vida do produto, inclusive a forma como ele será “deitado fora” e como as suas peças poderão ser reutilizadas ou reaproveitadas.
Passámos do extremo de há 50 anos atrás as pessoas terem um par de sapatos que estimavam “como se não houvesse amanhã” para hoje haver pessoas que têm um sapato de cada cor ou o mesmo modelo de sapato em verde água, verde boreal, verde lima, verde escuro, verde militar, verde arara, verde…
Entendo que as marcas queiram vender cada vez mais, a preços cada vez mais baixos e que as pessoas, como tu e como eu, adorem comprar e ter diversidade.
Juro que percebo essa necessidade do ser humano de ter diversidade. E também percebo que vivemos numa economia capitalista.
Mas qual é o custo associado a isso?
Quanto está a custar a nível de saúde para milhões de pessoas em todo o mundo?
Quantos adultos e crianças são explorados no seu trabalho para se conseguirem esses “preços fantásticos”?
Esse desejo de diversidade é de certa forma respeitável. Mas, na minha opinião, deixa de o ser quando se começam a colocar em risco os direitos humanos, a nossa saúde e a saúde do planeta. Que é o que está a acontecer atualmente, em todo o mundo.
E repara, essas marcas só continuam a fazer isso porque nós continuamos a comprar os produtos delas. É uma verdade muito “nua e crua” de enfrentar, mas é a realidade.
Quebrámos os ciclos de regeneração do planeta
Há que entender que na natureza tudo se constrói para depois se destruir, formando um ciclo em que nada se desperdiça.
“Na natureza nada se perde, tudo se transforma”.Antoine Lavoisier
Mas o ser humano tem posto substâncias em circulação na natureza que não se degradam, alterando assim os ciclos de regeneração do planeta.
Um exemplo perfeito desse tipo de substâncias são os plásticos.
Um plástico não é um material que se forme na natureza, de uma forma natural. É curioso como uma simples garrafa de plástico pode demorar entre 450 a 1000 anos a degradar-se…
Já pensaste que se deitares uma garrafa fora ela poderá andar “a rebolar” nesta Terra o tempoequivalente a 100 vidas tuas? É um impacto tremendo…
Mas vamos assumir que não atiras o teu lixo janela fora e que, pelo menos, o colocas no caixote do lixo “geral”.
Vamos agora passar ao segundo subtema principal do artigo, o panorama do lixo em Portugal.
A gestão dos resíduos em Portugal
Os dados estatísticos que te vou mostrar são do Relatório de Junho de 2018 da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), sobre a gestão de resíduos.
A produção de resíduos nacional tem vindo a aumentar desde 2014 e em 2017 foram produzidas em Portugal, 5,007 mil toneladas de resíduos urbanos, que representaram um aumento de 2% face a 2016.
Este aumento deve-se muito provavelmente à melhoria da economia do país e ao aumento do consumo por parte dos portugueses. Os dados deste relatório mostram-nos que esse não foi um consumo consciente a nível ambiental.
Atenção ao facto de que estes dados EXCLUEM grandes produtores de resíduos (como as grandes empresas) que façam mais de 1100 litros de resíduos por dia. Ou seja, nestas contas faltam muitas toneladas de lixo…
Mesmo assim, Portugal continental tem uma produção de resíduos de 484 kg/habitante.ano, ficando acima da média da união europeia.
Isto significa que a produção de resíduos diária, por habitante, é em média de 1,5 kg de resíduos.
Reitero, os cálculos que te vou mostrar a seguir NÃO incluem a nossa “pegada de resíduos” em relação às grandes empresas que encaminham os seus resíduos para gestores de resíduos privados (essas empresas privadas de resíduos incineram a maior parte do lixo)…
Quanto lixo produz um português?
Cada português produz em média, ao ano:
- 52,8 kg de plástico
- 48,35 kg de papel e cartão
- 33,41 kg de vidro (se for colocado no ecoponto é 100% reciclável)
- 178 kg de resíduos biológicos que não incluem o papel
- 18,38 kg de têxteis.
“Embora nos últimos anos tenha sido feito um esforço significativo de aumento do número de equipamentos e infraestruturas de recolha seletiva, designadamente ecopontos e ecocentros, constata-se que o mesmo não teve reflexos proporcionais nos quantitativos recolhidos seletivamente.”
Excerto do relatório da Associação Portuguesa do Ambiente
Agora “por miúdos”…
Mesmo com o aumento dos ecopontos e ecocentros em todo o país, os portugueses continuam a NÃO RECICLAR os seus resíduos em quantidade suficiente.
Já reparaste que, à exceção dos resíduos orgânicos, os plásticos são o resíduo mais produzido por cada português?
Seguidos pelo papel e cartão e pelo vidro.
Infelizmente vejo frequentemente papeis, cartão e garrafas de vidro a serem deitados no caixote do lixo orgânico.
Deixa-me recordar-te:
- O papel e cartão podem demorar entre 3 a 6 meses a degradar-se e são precisos entre 2 a 13 litros de água para fazer uma folha de papel A4 (dependendo do país onde é produzido o papel)
- Plásticos podem demorar até 500 anos a degradar-se
- Uma garrafa de vidro pode demorar até um milhão de anos a degradar-se.
Existem famílias de 3 pessoas que produzem o equivalente a um frasco de vidro pequeno ou a um saco de plástico pequeno de resíduos por ano (de resíduos não recicláveis e não orgânicos).
Conseguem-no porque recusam ao máximo o uso de plásticos e fazem compostagem dos seus resíduos orgânicos, entre outras estratégias “lixo zero”.
Acredito que concordas comigo quando digo que é de louvar quem consegue viver esse estilo de vida “lixo zero” e produzir apenas um frasco de lixo (para aterro) por ano.
Afinal para onde vai o nosso lixo?
Distribuição dos resíduos em Portugal:
- 57% para aterros sanitários
- 21% para valorização energética (incineradoras)
- 12% para reciclagem
- 10% para compostagem/digestão anaeróbia.
Ou seja, a maioria dos nossos resíduos não são reciclados, sendo encaminhados para os aterros sanitários e para as incineradoras.
E tal como consta no relatório da APA, a infraestrutura já está montada em muitos pontos do país. Sei bem que ainda existem locais onde os ecopontos estão longe das casas e entendo que uma pessoa não queira encher a bagageira do seu carro com o seu lixo para ir despejar (apesar de eu já o ter feito várias vezes).
Mas cada um de nós tem de fazer a sua parte para conseguirmos reverter esta situação. Se continuarmos a ter uma atitude negligente em relação a este assunto, nada mudará.
Se quiseres saber como podes começar a eliminar os plásticos da tua vida e diminuir a quantidade de lixo que fazes, sugiro-te o meu guia completo para venceres a epidemia dos plásticos, onde te explico aquela que considero ser a verdadeira Fórmula Para Uma Vida Ecológica.
No próximo artigo desta série vou falar-te em mais detalhe de um dos destinos do nosso lixo, os aterros sanitários.
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Ajuda-me a propagar esta mensagem de consciência ambiental!
Um forte abraço,
Miguel Murteira