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Tudo começou porque era viciado em jogos de computador…
Durante mais de 5 anos vivi completamente viciado em jogos de computador. Para mim era uma forma de “sair do mundo real” e de não encarar as dificuldades que vivia naquela altura.
Para quem me visse de fora, parecia simplesmente um vício destrutivo. Mas, o que é certo, é que acabou por me trazer uma das aprendizagens mais importantes e transformadoras da minha vida.
Antes de mais, se tu jogas computador como quem vê uma novela ou um jogo de futebol, isso não é vício. É entretenimento tal como ver o feed do instagram, ligar o youtube, ir à pesca ou ver televisão.
Se és jogador de eSports profissional, tens o meu respeito. É um trabalho muito duro e que exige mudar todo o estilo de vida para atingir a mais alta performance.
Mas se quando jogas sentes que não consegues parar, aí sim começa a haver um problema.
No meu caso jogava entre 6 a 8 horas por dia, comia ao computador e só fazia pausas para ir à casa de banho ou quando os olhos me ardiam e ficava com tonturas…
Mas Miguel, porque fazias isso? O que pudeste tirar de positivo duma situação dessas?
Descobri que usava o estado de flow sem saber…
Mihaly Csikszentmihalyi, psicólogo, autor e pesquisador na área da psicologia positiva, descobriu que existe um estado mental que se experimenta quando se está focado e extremamente concentrado numa tarefa.
Mihaly questionou pessoas criativas como compositores, pintores, escritores, cientistas, entre outros, para saber o que as levava a dedicar a vida a algo que não necessariamente lhes daria fama ou fortuna mas que enchia as suas vidas de sentido.
O que Mihaly descobriu foi que todas essas pessoas, ao trabalharem, entravam num estado mental de êxtase, como se entrassem numa outra realidade. Essas pessoas sentiam que quando entravam nesse estado deixavam de se aperceber do que acontecia no ambiente à sua volta e algumas até referiram que se sentiam como se “nem existissem”.
E existe uma explicação científica para esse fenómeno.
O nosso cérebro tem uma capacidade limitada de captar informação. Um exemplo disso é não conseguirmos dialogar com duas pessoas ao mesmo tempo.
É como a memória RAM de um computador. Ela armazena informação temporariamente enquanto trabalhamos no computador. Mas, se abrirmos muitos programas ao mesmo tempo, o computador começa a não conseguir dar resposta.
O nosso cérebro é igual. Nesse estado de “fluidez” o nosso cérebro está tão “concentrado” e a processar tanta informação que não sobra “memória RAM” para o resto!
Flow é alto desafio e alta habilidade
Mihaly também descreve que para se entrar em estado de flow temos de realizar uma tarefa que nos exija um nível de habilidade alto e que, ao mesmo tempo, exija um nível de desafio também alto.
E era precisamente isso que acontecia comigo nos jogos. Como não tinha inteligência emocional para lidar com a vida real, refugiava-me nesse estado de flow, nesse estado de êxtase mental, que os jogos me proporcionavam.
Eu descobri que associava tanto prazer a jogar porque eu tinha uma habilidade alta e procurava jogos que tivessem um nível de desafio também alto, o que me fazia entrar em flow constantemente.
Claro que quando me iniciava num jogo novo já sabia que ia “morrer muitas vezes” até dominar os detalhes característicos desse mesmo jogo. Eu já sabia que teria de passar por essa frustração inicial e sentia sempre a certeza de que, se continuasse a jogar horas suficientes, acabaria por dominar o jogo.
Eu não tinha consciência de que sentia essa certeza alta e de que usava o estado de flow a meu favor para dominar os jogos de computador. É curioso como, através de um vício, consegui desenvolver essa habilidade que é aplicável a qualquer área da vida.
É nestas alturas que conseguimos ver que nada acontece por acaso. Hoje é uma das habilidades que mais me ajudam no meu trabalho.
Depois de ter tomado conhecimento destes estudos sobre o estado de flow e de ter feito outras leituras de desenvolvimento pessoal, descobri que aplicava estas duas chaves para o êxito nos jogos mas que não as aplicava para ter êxito na minha vida real.
Tu podes escolher quando entras em flow
Assim, aprendi a redirecionar a capacidade de entrar em flow para outras áreas da minha vida tais como a aprendizagem contínua e o empreendedorismo.
Já imaginaste o poder que tem, ao lutarmos por um objetivo, conseguirmos encarar a frustração inicial como algo normal e persistirmos, sentindo dentro de nós a certeza de que vamos conseguir?
É um mindset super poderoso e que podes aplicar para atingires qualquer objetivo, em qualquer área da tua vida!
Êxito é percorrer o caminho, não é chegar ao destino
Aprendi também a focar-me no caminho que me leva ao objetivo e não apenas no objetivo final.
Passo a explicar…
Imagina que até gostas de carros e que tens o objetivo de comprar um Tesla model S.
É mais importante o processo de transformação pessoal e de aprendizagem que vamos ter de fazer para comprar o carro do que ter o carro.
Quantas pessoas terei de ajudar no meu negócio, para conseguir o rendimento que me permite ter esse Tesla? Que capacidades humanas e profissionais precisarei de desenvolver ou de melhorar para conseguir concretizar esse objetivo?
Atingir a teu objetivo torna-se praticamente insignificante porque, o que tem realmente valor, é a melhor pessoa em que te vais tornar e o impacto positivo que vais ter na vida das pessoas, nesse processo.
Pode-se dizer que esta é uma filosofia de vida em que o que procuras é tornares-te na tua melhor versão, usando objetivos e metas que vão de encontro aos teus valores, ao teu propósito de vida e às causas nas quais acreditas.
Encara os desafios como aprendizagens
Agora em vez de fugir da vida real, procurando um refugio ou um escape, já olho para os desafios da vida como bênçãos que me permitem crescer e evoluir.
Os desafios que a vida nos coloca são aprendizagens, muitas das vezes disfarçadas, e que temos de aprender a perspetivar da forma certa, mesmo que por vezes custe muito…
Cada desafio é uma oportunidade única para aprender algo que precisamos, naquele momento.
Tal e qual como quando me iniciava num jogo que desconhecia e tinha a certeza de que o ia dominar, agora sinto a certeza de que serei capaz de me superar a mim mesmo no jogo da vida.
Tal como a Cristina Ferreira, eu também busco a perfeição.
É como a história do aluno que estuda para ter 10 em vez de estudar para ter 20.
Se estudas para ter um 10, talvez consigas um 8.
E, se estudas para ter 20, é mais provável que tenhas um 18 do que um 8, como no caso anterior.
Claro que nunca poderemos atingir a perfeição. O que podemos sim é ter a perfeição como meta e aprender a desfrutar desse processo.
Se nos focarmos na perfeição vamos tornar-nos pessoas melhores do que se nos focássemos apenas em “ser bons”.
Usa o estado de flow para contribuires mais
Está nas tuas mãos e nas minhas usarmos o estado de flow para produzirmos algo que impacte positivamente as nossas vidas e as vidas das pessoas à nossa volta.
Podemos provocar mudanças positivas na nossa família, na comunidade onde vivemos e no nosso país.
E se formos mesmo bons, podemos mesmo impactar o mundo inteiro. Não seríamos os primeiros a fazê-lo e também não seríamos os últimos.
Acredita nas tuas capacidades e no valor que podes trazer à vida dos outros. Todos trouxemos um dom único e especial com o qual devemos contribuir para o progresso de todos. Serve-te do estado de flow para te ajudar na tua missão!
Espero que tenhas gostado deste artigo e peço-te que o partilhes com quem acreditas precisa destas informações.
Grato pela tua atenção.
Boas escolhas,
Miguel