Miguel Murteira

Aterros sanitários a enterrar veneno

O Teu Lixo, o Teu Veneno | Aterros Sanitários

Bem-vindo ao segundo artigo desta série sobre a gestão de resíduos.

Se ainda não leste o primeiro artigo da série, que fala sobre a produção excessiva de lixo, convido-te a que o leias agora antes de continuares.

Recapitulando o artigo anterior, em Portugal 57% do lixo tem como destino os aterros sanitários.

Sabendo que a média de reciclagem é de apenas 12% do total de resíduos produzidos, há muito lixo chega aos aterros e que nem sequer deveria lá estar.

Estamos a enterrar o nosso próprio veneno. E passo a explicar.

Só o lixo biodegradável é que deveria ser enterrado

Os aterros sanitários, apesar de serem diligentemente construídos, infelizmente não são perfeitos.

Nos aterros sanitários são colocadas camadas de argila e membranas impermeáveis para tentar impedir o chorume (líquido resultante da decomposição do lixo) contamine as terras e os lençóis de água. Todavia, devido ao contacto com o chorume tóxico, com o passar dos anos esse selamento acaba por ceder.

A contaminação é inevitável

Como se não bastasse, o chorume fica ainda mais poluído pelas substâncias químicas presentes no lixo (metais pesados, plásticos e muitos outros químicos).

Isso acontece porque se juntam tintas, produtos químicos/industriais, resíduos de obras, plásticos e muitos outros materiais que não deveriam ser deitados para o caixote do lixo comum.

Quando estas substâncias trespassam a proteção do aterro, contaminam as terras e chegam aos lençóis de água, contaminando todo o ecossistema.

Todo o ecossistema? Não estarás a exagerar?

Não, porque ao contaminar as terras as plantas também ficam contaminadas. E depois os animais comem essas plantas. Nós comemos os animais e entretanto já cá chegou. E isto se antes não bebermos água contaminada.

À medida que o chorume se infiltra na terra acaba por alcançar os lençóis de água. Pode ser logo aí captada para consumo ou então avança mais um pouco até chegar a um rio.

Se isso acontecer acaba por contaminar os peixes, podendo ser também aí captada para consumo.

Em suma, os nossos alimentos e a água que bebemos estão contaminados com essas substâncias tóxicas, que são extremamente prejudiciais à nossa saúde.

Se o lixo depositado nos aterros fosse 100% biodegradável, o chorume NÃO seria prejudicial para a natureza nem para a nossa saúde.

O Aterro Perfeito, Resolveria?

Agora imaginemos, numa situação ideal, que o aterro fica mesmo “impermeabilizado para sempre”.

Nesse caso ainda teríamos de lidar com as emissões de gás metano, um gás 20 vezes mais poluente que o dióxido de carbono e que contribui para um grande aumento do aquecimento global.

Felizmente em alguns aterros sanitários esse gás é canalizado através de condutas e queimado, produzindo energia, CO2 e água. Uma solução inteligente para aproveitar esse recurso, que de outra forma seria altamente poluente.

O Espaço É Finito – os exemplos da Ásia

E há ainda o fator espaço.

Cidades como Pequim, a capital da China, já não têm espaço para mais aterros sanitários.

Isto acontece devido à grande densidade populacional e também porque os contentores, que vão da China cheios de produtos novos para serem vendidos nos outros países, voltam cheios de plásticos para serem reciclados em território chinês.

Além da poluição que essa indústria gera por si só, tudo o que não é reaproveitado é encaminhado para aterros sanitários.

Existe um documentário intitulado Plastic China, que retrata a realidade cruel da indústria da reciclagem dos plásticos na China.

Mostra, entre outras coisas, exploração infantil e a poluição absurda provocada pela indústria de reciclagem dos plásticos. Esse documentário foi inclusivamente CENSURADO na internet chinesa!

Se tiveres oportunidade vê o documentário.

Outro exemplo é o Japão que tem cerca de 469 incineradoras, precisamente por não ter espaço suficiente para mais aterros e para tanto lixo.

Mas Miguel, foi precisamente por isso que se criaram as incineradoras, para resolverem o problema da falta de espaço. E ainda têm a vantagem de produzir eletricidade!

Resumo da Fórmula Para Uma Vida Ecológica

Antes de prosseguires para o próximo artigo da série, que fala das incineradoras, faz comigo uma breve reflexão.

Se o problema é a quantidade de lixo e o facto de ele não ser biodegradável, o que podemos fazer para solucionar este problema?

  1. O primeiro passo é RECUSAR artigos e embalagens descartáveis, escolhendo embalagens reutilizáveis ou as compras a granel.
  2. REDUZIR o lixo que produzimos, em especial o lixo sintético/químico.
  3. REUTILIZAR tudo o que pudermos, para evitar comprar novo.
  4. RECICLAR todos os resíduos que não pudemos recusar nem reutilizar.
  5. COMPOSTAR os resíduos orgânicos.

A solução é reduzir a nossa produção de lixo, encaminhando para os aterros sanitários apenas aquilo que não conseguimos mesmo recusar, reduzir, reutilizar nem compostar.

Se quiseres aprofundar-te um pouco mais sobre este tema da sustentabilidade em casa, convido-te a leres um guia completo que escrevi, clicando aqui.

Vemo-nos no próximo artigo desta série, onde partilho contigo mais informações sobre outro dos destinos do nosso lixo, as incineradoras!

Um forte abraço,

Miguel Murteira

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